Grande parte da população gaúcha não quer saber de partido político e, muito menos, participar de reuniões ou debates políticos. Os estudos realizados pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião indicam que a falta de interesse é motivada pela decepção, que pode ser ativada por diferentes gatilhos:
a) Pela cultura política vigente = que é resultado do distanciamento histórico da sociedade em relação à política. E o distanciamento mantém a população desinformada e suscetível a avaliar a política pela rede de boatos ou por suas observações;
b) Pelas práticas permissivas dos agentes políticos = essas práticas são observadas em negociatas, manutenção de privilégios ou vantagens pessoais para quem faz parte do mesmo grupo político;
c) Pela malversação de recursos públicos = que mostra que muitos gestores públicos não têm planejamento de suas ações ou que são displicentes com os recursos. Na prática, não cuidam do dinheiro público ou orientam ou cobram a suas equipes como deveriam;
d) Pela demagogia dos eleitos = ninguém gosta de ser enganado. Quando um candidato promete e não cumpre ele denigre a sua imagem e quando vários candidatos prometem e não cumprem, denigrem a imagem da política;
e) Pela corrupção de alguém que deveria dar o exemplo = o maior de todos os males e que, de certa forma, é a cereja do bolo. O eleitor olha para todo o cenário e pensa que a política é a arte da enganação, uma forma oficial de roubar a população.
Chegamos nesse cenário e não se pode culpar a sociedade por acreditar que a política é algo ruim e que políticos não prestam.
Temos a missão de salvar a política. Para salvar a política temos que ajudar a resgatar e recontextualizar a política. E para fazer isso temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política para que os políticos revejam o seu comportamento e as suas práticas.
Desde o processo de democratização do País, não houve o efetivo estímulo à participação política da sociedade. Na prática, é muito mais fácil para os mandatários não terem que prestar contas a uma sociedade organizada, crítica e que tenha informações sobre os bastidores da política.
Essa realidade precisa ser alterada para que a política seja vista de forma positiva e que cumpra o seu papel enquanto fomentadora do diálogo, como ferramenta de negociação de ideais, de propostas e que guie projetos. A política é o baluarte da democracia e deve ser utilizada pelos líderes na busca pelo bem-comum (interesse público).
Vale a pena participar da política, mas para haver participação é necessário ampliar o interesse pela política e ter instituições representativas, locais para participação, espaços de diálogo e de debate.
A participação política pode começar pelo envolvimento com a realidade em que vivemos: com a associação do nosso bairro, a associação de pais e mestres da escola de nossos filhos, o sindicato que cuida de nossa profissão, a associação de classe ou ONG (que defende um tema que é importante para nós).
Também podemos pensar no ativismo digital, utilizando as redes sociais e os sites de informações para acompanhar a política e interagir com quem destinamos o nosso voto.
Se cada um de nós se interessar e se envolver mais com a política vamos descobrir que vale a pena. Com isso estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos.
http://www.coletiva.net/colunas/vale-a-pena-participar-da-politica,324768.jhtml
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br