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Uma doença social e um caminho de integração: “A gente quer, a gente faz”

Uma das premissas que tenho trabalhado de forma acintosa está associada aos riscos que advém da ampliação do individualismo, em um cenário onde a liberdade está se desprendendo da responsabilidade e os direitos não estão associados necessariamente aos deveres. Estamos entrando no reino dos pronomes pessoais na primeira pessoa do singular: “eu quero”, “eu posso, “eu não faço”, “eu não curto” e assim por diante.

Os indicadores sociais de confiança nas instituições ou de expectativa com o futuro continuam a decrescer. As pessoas confiam cada vez menos nas instituições e, por consequência, passam a desconfiar umas das outras. A falta de confiança, a falta de crença fragiliza os parcos valores da sociedade e ativa um permissivo ciclo vicioso.

Quanto maior for o escândalo de corrupção, menor será a crença da população nas instituições.

Quanto maior for a descrença da população nas instituições, menor será o sentimento de solidariedade.

Quanto menor for o sentimento de solidariedade, maior será o individualismo e a fragilidade das instituições sociais primárias, como a família, a escola, a igreja…

A corrupção é o câncer da sociedade e esta doença social está associada ao “jeitinho brasileiro” que cria uma nebulosidade entre o que é certo e o que é errado.

 

Como tratar esta doença social?

Para qualquer doença, sempre há muitos tratamentos possíveis. Como o principal sintoma é a exacerbação do individualismo e da indiferença, temos que primar pela sua antítese que é a solidariedade, a coletividade.

Neste tipo de doença social a primeira tarefa é a reflexão, o debate. A consciência do que somos e do que podemos ou queremos ser. De onde estamos e para onde podemos ir. Para tanto é vital resgatar os elos de participação política e de associativismo. A integração deve começar pelas famílias, que estão cada vez mais distantes. Estas famílias devem se integrar com as escolas e com a sua vizinhança, até construírem associações de bairro que representem a comunidade e assim por diante.

O case de integração da FACISC

A FACISC – Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina tem como slogan “A gente quer, a gente faz” e mostra aplicabilidade desta frase na execução da metodologia do DEL – Desenvolvimento Econômico Local. O DEL tem o propósito de integrar a comunidade e construir a capacidade econômica de um local para melhorar suas condições e a qualidade de vida de todos.

O DEL foi trazido para o Brasil em parceria com o Banco Mundial e objetiva a implementação de estratégias para o desenvolvimento econômico local a fim de nortear o desenvolvimento de uma cidade a longo prazo. Esta metodologia nasceu na cidade de Essen, na Alemanha.

Este é um processo pelo qual o setor público se alia ao setor privado e a as organizações não governamentais, criando câmaras setoriais e trabalhando coletivamente para criar condições melhores ao crescimento econômico e geração de emprego. Um elo básico de solidariedade pelo bem comum.

O sucesso de um projeto de desenvolvimento econômico local depende da ampliação do capital social, como proposto por Robert Putnam, capital social se caracteriza pelo conjunto de recursos sociais possuídos por um grupo, através de redes de trabalho com as quais se constitui uma comunidade cívica, sentimentos de solidariedade e igualdade com os demais membros da comunidade, normas de cooperação, reciprocidade, confiança e atitudes positivas, reveladas através da confiança no outro, no governo e no funcionamento das instituições.

A FACISC tem se dedicado a este projeto que tem capilaridade em 20 cidades de Santa Catarina, 02 no Rio Grande do Sul, e previsão de ampliação para mais 15 cidades interessadas pela metodologia. O DEL está sendo usado para desenvolver a integração e fortalecer a confiança. Faz isso com o fortalecimento da capacidade local das comunidades, melhorando o ambiente para investimentos e aumentando a produtividade dos empreendedores e dos trabalhadores.

Neste contexto, se faz necessário fortalecer os elementos identitários da população, ampliando os elos de solidariedade que tendem a fortalecer o sentimento de comunidade. E o capital social começa na vivência diária: na confiança, companheirismo, na simpatia e no relacionamento social entre os indivíduos e famílias que compõem uma unidade social. A confiança entre as pessoas se amplia na confiança entre os indivíduos e, por consequência, entre negociadores.

O DEL não é só um projeto, é um dos tratamentos possíveis para ampliação dos elos de solidariedade e do sentimento de comunidade. É um projeto de empoderamento da sociedade em prol do bem comum.

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