A pandemia mudou a nossa rotina e criou um cenário complexo para a tomada de decisão. Até para coisas simples como visitar os pais temos que pensar duas vezes. E se for uma decisão futura, temos que avaliar e reavaliar.
A Covid-19 impactou na nossa forma de convívio social, na organização do nosso trabalho e criou, inclusive, a “aula emergencial remota”, separando as crianças.
Cancelou muitas festas, viagens e mudou muitos planos.
Impactou até no calendário eleitoral, mudando a data da eleição para 15 de novembro.
E nesse final de setembro, começa “o tempo da política”, o início da campanha eleitoral, só que no meio de uma pandemia. E é um grande dilema para os candidatos, há muitas perguntas: afinal de contas, o eleitor quer receber a visita dos candidatos?
Até pouco dias atrás, os prefeitos estavam fazendo decretos restritivos para diminuir a circulação de pessoas nas cidades. Agora, muitos desses prefeitos são candidatos e terão que circular nos bairros para se apresentar e pedir votos de seus eleitores.
Não será uma eleição nada fácil para os candidatos! Os eleitores estão cansados com a pandemia e com a política. Querem saber das propostas, mas sem ser incomodados pelos candidatos.
Nesse cenário ímpar de pandemia e negação da política, temos a tecnologia que será um elo entre os candidatos e os eleitores, que estão cada vez mais “seletivos”.
Por eleitores “seletivos”, entenda-se: pessoas que recebem uma enxurrada de informação pelo WhatsApp, que são impactados por Fake News e temem golpes pela internet e, portanto, procuram otimizar o seu tempo. Só dão atenção a cards e vídeos que sejam de seu interesse, que tenham um conteúdo que esteja alinhado com as suas preferências, com seus interesses.
Na prática, o eleitor “ativo”, que antes olhava tudo o que recebia se tornou um eleitor “seletivo”, que só analisa o que interessa. Esse contexto exige que os candidatos levem a rede de relacionamento e o conteúdo segmentado para dentro do digital.
Significa dizer que os candidatos terão que ter uma rede de influenciadores, promotores ou apoiadores que falem com sua rede de contato, de “whats a whats”. O que antes era feito de “porta em porta”, agora precisa ser feito de “whats a whats”. O “corpo a corpo” irá ocorrer no mundo virtual. Tanto as propostas dos candidatos quanto os seus ataques, estarão circulando de forma orgânica no mundo digital.
Mas a relação “whats a whats” exige um conteúdo segmentado, exige que o eleitor do bairro tal receba o plano de governo do candidato para o bairro tal. Que o eleitor que se envolve no tema saúde, receba as propostas para a área da saúde. Que o eleitor que atua na defesa dos animais, receba material sobre as propostas do candidato para os animais e, assim por diante.
É mais um dilema para os candidatos! Além de lidar com pandemia e com um maior índice de negação da política, terão que mudar seu modelo mental de trabalho. Terão que liderar equipes que consigam produzir e distribuir materiais segmentados, cards e vídeos que façam sentido para os eleitores.
Os candidatos terão o desafio de mostrar o que fizeram e o que podem fazer para resolver os problemas antigos (serviços públicos que não funcionam ou obras que não avançam). Também terão que “se virar nos trinta” e mostrar soluções para os novos problemas e dilemas causados pela pandemia.
.
https://www.coletiva.net/colunas/uma-campanha-eleitoral-diferente,375797.jhtml
.
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br