Dezembro começa sinalizando que o ano está no fim e com ele vem a reflexão sobre os acontecimentos do ano e as expectativas para o próximo. E nesse período começamos a ouvir propagandas e frases motivacionais que estimulam a bondade, a caridade e a importância de fazer o bem, sem olhar a quem!
Muitas pessoas se mobilizam para tentar auxiliar e confortar aquelas que não tiveram oportunidade, escolhas adequadas ou passaram por infortúnios durante sua vida. Vários tipos de campanhas são feitas e temos notícias de lindas histórias de Natal, nas quais a solidariedade se faz presente e o amor se torna vigoroso.
O ano vira, a vida continua, recomeça a jornada cotidiana e passamos a aplicar as mesmas práticas e vícios culturais que não auxiliam no desenvolvimento da sociedade. Para se ter um novo hábito é necessária uma nova rotina e para estabelecer uma nova rotina é necessário consciência ou um gatilho. A consciência é motivada pela educação, pela informação ou por exemplos. O gatilho pode ser ativado pela experiência, geralmente causada pelo sofrimento, algo que gerou dor ou decepção.
O propósito desse artigo é motivar a reflexão sobre os três grandes problemas culturais que necessitam de novos hábitos em todos os dias do ano: o jeitinho brasileiro, a falta de respeito e o descuido com o meio ambiente.
O jeitinho brasileiro é o nosso maior câncer social. É ele que dissipa o princípio ético, pois mistura ou aproxima o favor da corrupção. Parece algo inofensivo, uma forma criativa de alguém se dar bem, de encurtar a fila, de tirar uma vantagem. Mas não podemos esquecer que não é correto um se dar bem em cima de alguém que vai se dar mal, e se um faz, o outro se sente no direito de fazer, e assim o jeitinho vai tomando conta do corpo da sociedade.
A mudança de hábito deve começar evitando ou criticando as pequenas práticas associadas ao jeitinho, como furar uma fila, estacionar em vaga em local especial, colar na prova ou apresentar um atestado falso. É necessária uma consciência crítica e reflexiva para combatermos o jeitinho brasileiro que alimenta práticas permissivas de sonegação, usurpação e corrupção, tais como a não emissão de nota fiscal, o favorecimento pessoal dentro do serviço público ou até mesmo o pagamento de propina para liberação de um alvará ou anulação de uma multa de trânsito.
O segundo dilema cultural é relativo ao respeito e está associado ao jeitinho brasileiro. Se respeitamos o outro, não praticamos o jeitinho. Então, é vital desenvolvermos a consciência de que o respeito é imprescindível, e de que se respeitarmos vamos ser respeitados. Vamos formando um ciclo do bem, onde quem está fora do padrão é arrastado pelo bom exemplo ou pela cobrança de quem está dentro.
O terceiro tema diz respeito ao cuidado com a fonte de nossa vida, o planeta Terra. A proteção do meio ambiente, a utilização correta da água e o descarte do lixo são temas que precisam estar no rol de nossas preocupações, fazer parte de nossa prática e estar presente na educação de nossos filhos.
Precisamos romper com velhas práticas para propiciar o desenvolvimento igualitário do País. Os direitos estão assegurados em lei, mas o que precisamos ter, ao longo de todo o ano, é bom senso, ética e valores morais. Cada um de nós é responsável pelo futuro do local onde moramos. Não basta apenas acreditar, é preciso rever as práticas e o comportamento, debater e agir.
http://www.coletiva.net/colunas/tres-comportamentos-que-podem-melhorar-o-brasil,327253.jhtml
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br