O “erro” das pesquisas eleitorais publicadas tomou a agenda do debate após o primeiro turno das eleições, suscitando até mesmo pedido de investigação dos institutos de pesquisas nesta eleição. Em primeiro lugar, registro que considero que todo o tipo de debate, reflexão, revisitação e até mesmo investigação é salutar para o amadurecimento e qualificação de qualquer atividade profissional.
Em segundo lugar, como cientista social e política, especialista do comportamento eleitoral e diretora de um instituto, que não realiza pesquisas publicadas de intenção de voto, não posso me furtar em registrar os fenômenos deste pleito que prejudicaram a assertividade das pesquisas.
Em terceiro, devo lembrar o clássico dos clássicos: a pesquisa é uma fotografia do momento, é diagnóstico e não prognóstico, pois o jogo continua a ser jogado depois da pesquisa, mesmo que nos “bastidores dos grupos de Whats”. E sabe quando você olha para uma foto e não gosta dela? Logo pensa que pode fazer uma foto melhor, uma outra pose, de outro jeito. Pois é, foi o que aconteceu!
Nacionalmente, as pesquisas publicadas diziam que Lula estava com quase metade das intenções de voto e poderia ganhar no primeiro turno. No RS, a indicação era de um segundo turno entre Eduardo Leite e Onyx Lorenzoni, com a liderança de Eduardo. Para senador, tinha-se a liderança de Olívio com empate técnico entre Ana Amélia e Mourão. E não vou me ater, mas também houveram outros casos de diferença entre o resultado das últimas pesquisas publicadas com os resultados das urnas.
Focando na análise do principal fenômeno, na véspera das eleições, uma parcela do eleitorado que não queria nem Lula e nem Bolsonaro analisou a “fotografia” das pesquisas que diziam que Lula poderia ganhar no primeiro turno e recalculou o curso de seu voto. Isso fez com que Ciro Gomes murchasse, indo para quarto lugar e fez com os indecisos se posicionarem pró-Bolsonaro. Lula se manteve, como previsto nas pesquisas, e Bolsonaro ampliou seu percentual em relação às mesmas pesquisas. O voto útil do eleitor de última hora, que representa 10% do eleitorado, resolveu “fazer uma nova fotografia.”
Esse movimento impactou na eleição estadual. O eleitor que fez voto útil para Bolsonaro, repensou o mesmo movimento pró-Mourão com o objetivo de evitar a vitória de Olívio e chegou na conclusão do voto trinca, Bolsonaro X Mourão X Onyx.
A tendência de voto casado, seguindo a polarização nacional, estava sendo mapeada pelas pesquisas de análises diagnósticas, bem como a baixa cristalização do voto em Eduardo Leite, que chegou a pontuar com 44% dos votos válidos, mas com apenas metade dos eleitores com certeza de voto, que declaravam que a intenção de voto era definitiva.
Movimento de menor intensidade estava ocorrendo com eleitores lulistas, que faziam voto casado ou voto trinca entre Lula, Edegar Pretto e Olívio. Onyx cresceu com o voto casado do eleitor Bolsonarista e Pretto ampliou sua votação com o voto casado lulista.
Este movimento em bloco, mudou as intenções de voto pró-Eduardo, que tinha uma campanha mais baseada em suas características e carisma pessoal do que nos indicadores de continuidade.
Sempre digo que a intenção de voto é sintoma de um comportamento. E o eleitor nos ensinou que pode usar o resultado da pesquisa para tentar mudar o resultado da eleição.