Por princípio, a opinião popular deveria ser a base das regras políticas e das normas sociais. Não é à toa que a Constituição diz em seu parágrafo único que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Como pesquisadora, acompanho o crescente desinteresse da sociedade por política, inclusive, entre os jovens. Pesquisa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião no Rio Grande do Sul verificou que 81,5% da população não têm o hábito de conversar sobre política e 63,6% não têm interesse no tema.
Nas redes sociais se observa a impaciência, a intolerância e até a agressividade dos internautas com a política. Em muitos casos, a crítica e a ofensa antecedem o debate e a reflexão. Em outros, o debate e a reflexão inexistem.
A opinião deve ser a forma de uma pessoa se manifestar, buscar sua identificação com o mundo que o cerca. É fato que a opinião está envolvida por um juízo de valor e externar essa opinião é um movimento salutar em direção ao conhecimento. Ou seja, se digo o que penso e debato com o outro de forma respeitosa, amplio o meu conhecimento. Em muitos casos, agrego uma nova perspectiva, faço uma reflexão, vou atrás de mais informação, confirmo um dado, aprendo! E é assim que devemos evoluir em uma democracia.
Ao contrário, a radicalização de uma posição nunca é positiva e a negação da política é tão ruim quanto as ideias fixas dos radicais políticos.
Sei que aprender a opinar não é uma tarefa fácil e necessita estar associada ao bom-senso, à resiliência e à empatia para que a opinião não vire uma posição, uma verdade absoluta ou um abuso de poder. E a nossa régua de referência tem sido, historicamente, salvaguardada pelo senso comum: “O meu direito termina quando começa o do outro”.
O objetivo da Constituição é “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”. E não há nenhuma contradição entre o objetivo da Constituição e a expectativa da sociedade.
Então, não devemos negar a política! Ao contrário, devemos nos apropriar dela. A política precisa estar nas reuniões de família, na escola desde as séries iniciais, no local de trabalho, no debate das redes sociais e, até mesmo, nas atividades de lazer.
E quando falo em política não me refiro em defender o político X ou Y ou o partido W ou Z. Estou falando de debatermos a cidade que temos e a cidade que queremos. As leis que temos e as leis que podemos ter.
Estou falando em utilizar a internet para buscar informações sobre as reformas que estão sendo propostas, de acompanhar a atuação dos políticos nos quais votei, acompanhar aplicativos como: “Sr. Cidadão”, “Meu Deputado”, “Tá de pé?, “Meu município”, entre outros.
Estou falando em compartilhar informação sobre os direitos que temos e como exercê-los de forma plena. De trocar experiência e sonhos. Também estou falando em se reunir em algum tipo de entidade ou associação, de pensar, deliberar e reclamar em conjunto.
Estou falando de identidade, de propósito, estou falando de sentimento de comunidade, de pertencimento. Estou falando que para o poder emanar verdadeiramente do povo, devemos ter que gostar de política e o primeiro passo é o interesse e o hábito de conversar sobre política.
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br
Foto: Eduardo Beleske