É cada vez mais corrente o clamor popular sobre a necessidade dos governantes terem mais o “perfil de líderes” e “menos o de políticos”, contexto que baliza o conceito de “nova política”. Este é um dilema antigo do setor privado, que anseia por profissionais “menos chefes” e “mais líderes”.
Segundo Katz (1955)* o líder precisa ter, minimamente, duas capacidades: capacidade técnica e capacidade humana. Para testar esta premissa o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião realizou um estudo qualitativo e alguns pontos desta investigação subsidiam esta reflexão.
A capacidade técnica de um líder está no seu conhecimento, que não precisa estar acumulado em sua expertise pessoal, ser resultado de formação ou de um amontoado de cursos. Envolve a visão específica de gestão da empresa ou governo e, também, o conhecimento mínimo dos processos e das técnicas. O conhecimento de um líder é mais do que isso. É a capacidade de utilizar a sua base técnica na busca de uma visão mais holística em relação ao tema que lidera. Trata-se da capacidade de recrutar e liderar pessoas que tenham a condição de sistematizar informações e indicar caminhos. É na capacidade técnica que o princípio do CHA é percebido: C = Conhecimento; H = Habilidade; A = Atitude.
A capacidade humana é inerente as relações humanas com a equipe, com os clientes, com o mercado e/ou com a sociedade. É a consciência das suas próprias atitudes que lhe dão condições de criar uma atmosfera de aprovação e segurança ao seu entorno. A confiança (que envolve a honestidade e a integridade) é o atributo mais importante em um líder. Todos os demais atributos se conectam através da “percepção de confiança”. Depois da confiança, se espera que um líder tenha coragem, atitude para tomar as decisões que são vitais para o avanço de seus liderados, mesmo que estas atitudes resultem em alterar a zona de conforto ou até mesmo o estabelichment.
A capacidade de inovação está atrelada ao desenvolvimento da visão de mercado e de mundo, como um elemento sine qua non, que unifica a capacidade técnica com a capacidade humana e fomenta a capacidade conceitual, que formaria o tripé de capacidades, trazendo o diferencial competitivo ao líder. A capacidade conceitual traz elementos vitais como inovação, responsabilidade social, visão de mercado e/ou de mundo. Permite ao líder a capacidade de reconhecer que as várias funções da organização dependem uma das outras e de sua relação com o mundo externo. Um líder com uma capacidade conceitual não faz a inovação pela inovação, não vai atrás de modismos. Um líder que tem capacidade conceitual inova no atendimento de uma demanda, de uma necessidade, na busca de um novo paradigma.
Ao conduzir um estudo sobre liderança ou uma pesquisa de opinião com a população tenho sido motivada a crer que se faz necessário a proliferação de escolas que ensinem liderança. No final do mês de abril de 2017, tive a oportunidade de conhecer uma semente inspirada nesta lógica: o projeto Geração Dux http://geracaodux.com.br.
“Dux, no latim, significa aquele que conduz, o guia, o conselheiro. Dux é o líder – o que inspira. Essa é a essência do programa Geração DUX – Lideranças inspiradoras”. O programa apregoa a capacidade de inspirar pessoas e organizações para uma nova dimensão de governança e de gestão, que alie o pragmatismo da técnica com a efetividade de atitudes pautadas pela ética e pelo pertencimento a uma sociedade mais justa e sustentável. Um projeto que trata de ”negócios sociais” e se apregoa a capacidade do penso econômico + penso social + penso ambiental. Fico imaginando líderes com capacidade técnica + humana + conceitual com um propósito de negócios sociais.
Hum… só falta juntar a esta lógica outra grande semente, a metodologia do DEL (Desenvolvimento Econômico Local) http://facisc.org.br/del/…
Em um momento de tantas instabilidades estes projetos são muito inspiradores!
*KATZ, Robert L. Capacidades de um Administrador Eficiente. 1974 (tradução). Original KATZ, R. L. “Skills of an effective administrator.“ Harvard Business Review, jan/fev. 1955, pp. 33-42.