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Por que opinamos?

 

Com o desenvolvimento da ciência, a humanidade cada vez mais sabe em relação ao que pensa (nunca se soube tanto!). No entanto, ainda há muito a descobrir sobre por que se pensa. De onde vêm nosso pensamento? Por que opinamos? A neurofilosofia, junto às ciências sociais e comportamentais, tem tentado responder a essas perguntas e, não é à toa que, na discussão sobre opiniões, há divergentes contrapontos.
Por um lado, os naturalistas tendem, em geral, a considerar nossas opiniões, nossos pensamentos, nossa mente, como dependentes das reações químicas, das situações físicas e das propriedades biológicas do nosso corpo. Os sentimentos, portanto, seriam um reflexo de uma dita ‘natureza’ humana. Seríamos fadados a pensar de tal forma, conforme determinados naturalmente pelas sensações ou predisposições. Mas de onde surgiria, então, o sentimento de dever?
Os normativistas, em contraste ao naturalismo, buscam e creem libertar a mente em relação ao corpo: há algo a mais que a pura natureza. Como poderiam as necessidades biológicas explicar o dever, pelo puro dever? – perguntam eles. Como poderiam ser explicadas as nossas decisões antinaturais? Pela teoria naturalista, que tanto condenam, estaríamos fadados a apenas agir e a reagir conforme determinados.
Nem ao céu e nem à terra: a conclusão de muitos neurocientistas, filósofos e sociólogos sobre o assunto. Essa versão mitigada defende que, embora exista dependência dos sentimentos à estrutura do corpo, como clamam os naturalistas, não se pode reduzir a consciência ao corpo, conforme os normativistas. Essa é a tese que defende o neurocientista português António Damásio, de que a consciência é como um mapa dos níveis não-conscientes de nossa existência: nosso pensamento é como um termômetro do que acontece dentro de nós, uma chamada visando à autopreservação. No entanto, as formas como podem se dar essa consciência, não vêm de dentro, vêm das relações econômicas e socioculturais, que transcendem às ciências biológicas.
É normal, portanto, que o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião avalie o cenário social levando em conta todas essas teorias sobre comportamento. Um exemplo são as perguntas socioeconômicas em um questionário, a partir das quais se pode encontrar correlações entre fatores como gênero, idade, local de residência com as opiniões expressas na entrevista. O biológico e o contexto geográfico de cada indivíduo influencia, portanto, na forma como ele pensa e opina. No entanto, é mister na formação e na orientação de um instituto de pesquisa saber que, nem por isso, se pode generalizar uma análise.
As pessoas não opinam apenas conforme são. O porquê de elas pensarem como tal está justamente nas entrelinhas de suas respostas. Por que pensamos, assim, continua uma incógnita em relação ao seu fundamento mais básico – se houver algum. Porém, isso não significa que não possamos pensar sobre isso.

Esse texto é uma versão resumida do artigo “Nature and Spirit in Triple-Aspect Monism”, publicado pelo autor na revista Kínesis (UNESP), v. 8 (18), 2016. Texto na íntegra: http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/10_henriqueraskin.pdf

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