A eleição mal começou e o eleitor já tem várias perguntas: – A eleição acabou com a pandemia? – A bandeira vermelha e as restrições voltam após a eleição? – E por que tem tanto candidato a vereador em um período de pandemia?
Em função do contexto de incertezas, o eleitor externa muitas dúvidas e interrogações nas pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião. Algumas repletas de indignação e outras tantas associadas à expectativa e à esperança.
Chama a atenção de todos o elevado número de candidatos a vereador em cada cidade. Esses candidatos passaram a ocupar muito espaço nas redes, invadindo as timelines dos eleitores. Afinal de contas, nesse contexto de pandemia, todo mundo tem um amigo virtual candidato ou um amigo que é amigo virtual do candidato.
O excesso de candidaturas também é perceptível nas campanhas presenciais. Chega a ser cômico ouvir grupos focais de eleitores contando o que acontece quando os candidatos visitam a periferia e são testados pela população. Tem eleitor que vai cumprimentar o candidato com a mão estendida e ele dá o cotovelo. Envergonhado, o candidato tenta melhorar a interação, estende a mão para o próximo eleitor e é xingado porque deveria dar exemplo. Em certo sentido, os eleitores estão se vingando, com a vontade de mandar os candidatos ficarem em casa!
Mas voltando ao tema principal, a grande pergunta a ser respondida é: por que há tantos candidatos? Esse contexto é explicado por dois fenômenos:
a) estratégia dos partidos = pela primeira vez desde a abertura política, os vereadores não poderão concorrer em coligações. O candidato a uma cadeira na câmara municipal somente poderá participar do pleito em chapa única dentro do partido ao qual é filiado. Com o fim das coligações partidárias, os partidos precisaram adotar uma estratégia de ampliação de candidaturas e buscar muitos e muitos candidatos que façam votos para se agregar à legenda.
Na prática funciona assim, um partido que tinha dois vereadores eleitos, agora necessita de um exército de candidatos para garantir votos para a legenda e conseguir as suas cadeiras. Essa nova realidade fez com que os partidos procurassem lideranças de bairros, pessoas que têm relação com a população, influenciadores digitais ou qualquer pessoa disposta a colocar seu nome à prova e contribuir com uma centena de votos.
Os dirigentes partidários utilizam de sua capacidade de persuasão para elogiar e motivar os pretendentes, dizendo que eles têm “muito potencial”. O que “esquecem de dizer” é que esses candidatos com “muito potencial”, teriam que fazer mais votos que os líderes tradicionais de votos (que geralmente aparecem mais na televisão e têm mais estrutura de campanha).
b) precarização financeira = é o que motiva o segundo fenômeno. Muitos desses candidatos, que são utilizados como “garimpeiros de votos”, estão sofrendo financeiramente com a pandemia. A campanha eleitoral entra com uma perspectiva financeira diante da motivação de que podem se eleger.
De um lado, cada nova regra eleitoral casuística se utiliza do jeitinho brasileiro para garantir seu espaço de sobrevivência. De outro lado, essa nova lei poderá formar novos quadros políticos, que serão importantes para a renovação futura. Só o tempo irá dizer!
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Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br