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Os eleitores não acreditam nos partidos, mas creem na democracia

Sempre digo que a democracia representativa deveria ser vista como um ‘telhado’ e a análise da consistência deste deveria ser medida pela estrutura das paredes, que deveriam, por sua vez, ser constituídas pelo exercício da cidadania (com conhecimento dos direitos e deveres) e pela prática da participação política (que inclui o debate e o engajamento da sociedade nas instituições representativas, sejam associações, sindicatos, partidos etc).

Para haver participação política é necessário a crença e a legitimidade da política. Infelizmente, as pesquisas mostram que, para a maior parte da sociedade, a política é sinônimo de partido político, de político e de corrupção.

O conceito de política é muito amplo e deveria guiar o ‘homem’ em sociedade, em especial, em um Estado Republicano. A política pode contemplar desde a habilidade de se relacionar com os outros, a cortesia e urbanidade, passando pela orientação ou método político até a arte de governar. A cidade e as leis que temos são fruto da política, a cidade e as leis que queremos ter devem ser frutos do debate político. A política é perene à nossa existência social e, na percepção da sociedade, a política é representada por Instituições e por representantes do povo. O receio é que a falta de crença na política contamine a crença na democracia.

Em pesquisa estadual realizada pelo Instituto Pesquisa de Opinião (IPO), no início deste mês de setembro, com 1.500 gaúchos distribuídos proporcionalmente nas sete mesorregiões do Estado, verificou-se que a maioria dos gaúchos não confiam nos partidos políticos, mas acreditam na democracia. Pergunta aplicada: E pensando no debate entre democracia (governo de muitos) e ditadura (governo de um) é melhor para o Brasil…

– Se manter na democracia: 69,3%

– Ter uma ditadura: 22,9%

– Não sabe avaliar: 7,8%

A maior parte dos gaúchos acredita que a melhor forma de governo é a democracia. Em Porto Alegre, este percentual chega a 79,3% e o menor desempenho está na região da Serra, com 64,4%. Há uma relação direta com a renda e o acesso a informação. Quanto maior a renda e o grau de escolaridade, maior o percentual de pró democracia.

A relação entre rejeição partidária e democracia não se mostra significativa, tendo em vista que quem rejeita e quem não rejeita os partidos políticos prefere a democracia.

É como se a população dissociasse a política da democracia e este fenômeno está alicerçado no personalismo político. A maioria da população não reconhece valor na política (não se interessa, não percebe importância) e tem ojeriza a classe dos políticos. No entanto, estes eleitores acreditam em pessoas e atribuem [a estas pessoas um voto de confiança, depositando nelas suas esperanças e crenças. E assim anda a democracia, um telhado que é sustentado pela terceirização da crença em outrem!

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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