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Onde vamos parar?

Essa é uma pergunta que ouço muito e em diferentes campos de nossa realidade. Quando falo em “diferentes campos” estou me referindo ao conjunto de situações que compõem a nossa vida. Temos vários “papéis sociais”: somos filhos, somos pais, somos amigos, somos colegas, vizinhos, também somos alunos, profissionais e dividimos o mundo com alguém. Além disso, ainda somos consumidores, eleitores, cidadãos e usuários de redes sociais. E como a novela da vida permite muitos papéis, também podemos ser autores ou réus de um processo.

Ufa! São tantos “papéis sociais” e temos cada vez menos tempo e menos noção do script a ser seguido. Somos atores de um espetáculo sem roteiro definido.

Começamos uma tendência de cada um fazer o que quer, o que tem vontade, de ir atrás de seu sonho. Em muitos casos, o sonho é volátil, muda conforme o humor, as relações de amizade ou uma postagem bacana de um influenciador digital. Ora a pessoa pode querer uma coisa, ora pode querer outra. Em uma conjuntura onde só se pensa no hoje, não há um cálculo dos custos de uma decisão.

Todas as escolhas de nossa vida têm um custo, uma consequência. Muitas vezes, para desenhar a trajetória a mercê de nossas vontades e expectativas é necessário ignorar ou romper com os ensinamentos de nossos pais e avós. E quando fazemos isso, perdemos o nosso oráculo, a nossa história, nossa referência e, até mesmo, nossa identidade e valores.

E, após essa reflexão, volto a minha pergunta inicial: onde vamos parar? Ouço essa pergunta rotineiramente quando uma pessoa está avaliando os problemas cotidianos que enfrenta com os jovens. E não vamos pensar apenas em adolescentes, o atual conceito de jovem vai até 29 anos.

A inquietação com futuro faz pais relatarem a falta de respeito e de foco de seus filhos. Chefes reclamam cada vez mais da falta de interesse e de comprometimento de seus funcionários. Os professores falam da indisciplina de seus alunos. E até o mundo político se preocupa com o baixo engajamento dos jovens no debate sobre o futuro.

Esse debate é maior do que os ruídos naturais de um choque entre gerações. Os pais, os professores e os chefes fazem essa pergunta, pois não percebem propósito, um caminho possível, onde esses jovens irão chegar! Percebem jovens cada vez mais ansiosos, tristes, frustrados e até deprimidos.

E isso ocorre porque o alcance de um sonho exige dedicação, esmero, muito foco, capacidade de relacionamento, construção de uma rede de apoio e solidariedade. Temos que ter a noção de que estamos no caminho inverso, pois o crescente individualismo motiva o egoísmo, a solidão e, principalmente, a impaciência. Sem paciência, o caminho se torna mais difícil e as pedras intransponíveis.

O “modelo mental atual” pressupõe que, futuramente, esses jovens serão pais, serão professores e serão chefes. Mas se não se dedicarem para essas metas, como será? Isso irá acontecer?

Os visionários afirmam que não há preocupação, pois está se construindo um “novo modelo mental”, onde a tecnologia resolverá a maior parte dos problemas, basta ter o aplicativo certo.

A inovação pode redesenhar os papéis sociais, mas, para tanto, teremos que evoluir de um estágio para o outro. Teremos que ser senhores de nossa história, e saber onde estamos e para onde vamos. Essa caminhada precisa ser feita com valorização de nossas origens e com o reconhecimento de que precisamos dos outros e que eles precisam de nós.

 

http://www.coletiva.net/colunas/onde-vamos-parar,347981.jhtml

 

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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