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O jeitinho brasileiro é a base da corrupção

Ao estudar a prática do “favor, jeitinho e corrupção” verifica-se que no comportamento cotidiano da sociedade brasileira, há uma linha cultural muito tênue entre essas três lógicas. O “jeitinho brasileiro” aproxima o favor da corrupção, servindo como “ponte de acesso” entre conceitos tão distintos.

A diferença entre os conceitos de “favor” e “jeitinho” nos leva para o cerne do atual problema do país: O “jeitinho”, inicialmente sinônimo de “criatividade”, adaptou-se para a capacidade de resolver problemas ou tarefas utilizando subterfúgios, burlando regras, utilizando-se de redes de relacionamentos e se constituindo como uma forma de “levar vantagem”. Do ponto de vista prático, é preciso que se entenda que, em uma democracia republicana, o “eu me dei bem” não pode ser resultante de uma ação inversa “alguém se deu mal”.

De uma forma geral, podemos dizer que a base da corrupção brasileira é cultural. Nossa cultura é reflexo da forma como o sistema foi historicamente organizado, desde a colonização até a república. A “coisa pública” trouxe consigo vários vícios: o coronelismo, o clientelismo, o populismo, o patrimonialismo, entre outros.

Corrupção, em seu conceito mais simples, é “modificação, adulteração das características originais de algo, a depravação de um hábito ou costume”. Neste contexto, desviar dinheiro ou roubar sinal de TV a cabo é corrupção. São casos que passam por valores éticos e morais, considerados como “jeitinho” e que “atenuam” o conceito de corrupção.

No dia a dia, há pessoas que procuram tirar vantagem ou encurtar caminhos para “se dar bem”. Vai do simples ato de furar a fila para garantir bom lugar em um show à tentativa de suborno de um policial a fim de evitar uma multa no trânsito. Há muitos exemplos de corrupção que se escondem na forma de jeitinho:

– Uma pessoa tem bolsa de estudo e um emprego ao mesmo tempo. Isso é proibido, mas ela consegue esconder do governo;

– Uma mãe que conhece um funcionário da escola passa na frente da fila quando vai matricular o filho;

– Uma pessoa paga um funcionário da companhia de energia elétrica para fazer o relógio marcar um consumo menor;

– Uma pessoa pede a um amigo que trabalha no serviço público para ajudar a tirar um documento mais rápido do que o normal.

O jeitinho é uma forma de corrupção! Na prática, o jeitinho é a porta de entrada para a corrupção, que começa com a perspectiva de tirar vantagem pessoal, de se beneficiar com algo, a conhecida lei de Gérson que diz que “o importante é levar vantagem em tudo”.

A mudança deste cenário requer etapas integradas: a) A consciência desta realidade, saber que ela existe e está intrínseca no cotidiano, disfarçada de “jeitinho”; b) O debate sobre esta realidade, refletindo e deliberando o que “é certo e o que é errado; c) A educação, que temos que pensar da educação informal (que ocorre dentro de casa e na rede de relações) até a educação formal (de sala de aula); d) A prática, onde se abre mão de vantagens pessoais em detrimento de valores e se pratica o que foi acordado, trabalhando em prol do bem comum.

Temos que rever os valores e praticá-los. Cora Coralina diz que: “feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

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