O eleitor votará certo se o político fizer o certo

Na coluna da semana passada, abordei a necessidade de uma revisão conceitual da política, pois na democracia os políticos precisam dos eleitores e os eleitores precisam dos políticos e a saída é um parar de falar mal um do outro e reconstruírem juntos os elos de representação. Afinal de contas, todo poder emana do povo.

A próxima eleição será em 2020, mas temos que repensar a política desde agora. Os políticos reclamam que os eleitores não participam dos partidos, que não acompanham o que está sendo feito, dizem que os eleitores são ofensivos nas redes sociais e que não querem mais ouvir propostas.

Os eleitores argumentam que não querem mais ouvir promessas, alegam que não aguentam mais serem engados. Realmente não acompanham o que os políticos dizem que fazem pois, na prática, observam diariamente o que não é feito, o que não é gerenciado e o que não é fiscalizado corretamente.

Os eleitores reconhecem que têm o direito de votar, e depois do voto têm o direito de correr atrás de direitos “atolados de burocracia” ou ver os seus direitos sendo alterados.

Nos debates em grupo de pesquisas qualitativas executadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião, questiona-se aos eleitores sobre sua visão em relação aos políticos e sobre o que deveria mudar para que voltem a confiar na política.

E a resposta está sempre na ponta da língua daqueles que desejam renovar a esperança nos políticos: “Que as promessas feitas sejam cumpridas”. A premissa é simples, mas a tarefa é complexa. Os eleitores sabem que não existe legislação que obrigue os políticos a cumprirem o que foi prometido.

Pelo objetivo de como foi pensada a democracia representativa, os candidatos deveriam ter um propósito claro, ligado a um ideário partidário. E ideais não poderiam ser negociado por cargos, conchavos e muito menos por emendas parlamentares.

O candidato deveria ter uma plataforma, um plano de governo ou de mandato. No desejo dos eleitores, quem se aventura como candidato deve saber o que fazer e, principalmente, como fazer. Suas ideias deveriam ser expostas, debatidas e avaliadas pelos eleitores. E, se eleito, esse político teria a obrigação de cumprir o que prometeu, seguindo uma legislação sobre o tema, com punições que fossem de multas a perda do cargo.

O Brasil está preocupado em aprimorar uma legislação punitiva para os políticos que comentem crimes como caixa dois ou corrupção. Mas não tem trabalhado para desenvolver uma legislação representativa, que efetivamente, estreite as relações entre representantes e representados.

É necessário revisar o princípio, como deveria estar funcionando e como realmente funciona. E essa tarefa é primordial para garantir que, realmente, o “poder emane do povo”.

Para os eleitores, não haverá nova política dentro de um velho e viciado sistema que trabalha para manter práticas clientelistas e o fisiologismo da política brasileira. E nesse debate também entra a necessidade de rever conceitos nas práticas corporativas do funcionalismo público e do judiciário. A população não suporta mais ouvir que o governo não tem dinheiro para custear o atendimento de quem está morrendo na porta de um hospital enquanto um procurador diz que 24 mil reais líquidos é um “miserê”.

A esperança, o debate e as novas atitudes devem ser a base de uma nova política. E essa nova política pressupõe leis que favoreçam o povo e não os políticos.

http://www.coletiva.net/colunas/o-eleitor-votara-certo-se-o-politico-fizer-o-certo,320016.jhtml
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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