Estamos vivendo uma revolução tecnológica digital. Podemos até não nos darmos conta, o tempo vai passando e vamos acompanhando as mudanças como se as mesmas fossem naturais. Às vezes, até comentamos “que parece que tudo muda muito rápido” e continuamos a nossa jornada, nos adaptando ao que é possível, vivendo novos aprendizados e tentando rever conceitos e, até mesmo, nossas crenças.
A revolução digital afeta o nosso comportamento individual e com outras pessoas, a nossa relação dentro de casa, com a nossa família. O nosso comportamento na escola, no trabalho e, principalmente, a nossa forma de consumir e de ver o mundo. E como toda a revolução, altera as estruturas de referência e, por consequência, impacta e fragiliza os valores sociais.
E essa mudança de comportamento é motivada pela entrada da tecnologia no seio da sociedade. E tem a sua expressão objetivada através do celular que está em nossas mãos e que nos conecta com o mundo. Essa conexão nos transmite informações (verdadeiras e/ou falsas), no trânsito nos dá opções de rota, passa um resumo da novela, pergunta como nos sentimos em uma loja que visitamos, nos mostra a lembrança de um ano atrás e se mantém conosco durante nossas atividades.
A relação simbiótica entre tecnologia e indivíduo vai alterando práticas alimentares, estilos de vida, a forma de consumir e, principalmente, nossas percepções sobre marcas e produtos.
E, nesse contexto, o consumidor empoderado vai se constituindo. Mas o que é o consumidor empoderado? É o consumidor que acredita que está no comando da relação de consumo. Antes o consumidor era passivo, assistia a uma propaganda, comprava um produto e se o produto não correspondesse a propaganda o consumidor tinha no máximo a possibilidade de reclamar no SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) ou de contar a experiência malsucedida para familiares ou amigos.
Hoje o consumidor é ativo, pois tem redes sociais e a sua timeline. Tem vários canais para reclamar (como o site Reclame Aqui) e se for um microinfluenciador digital poderá reproduzir a experiência negativa para ter ‘ibope’ com os seus seguidores.
O consumidor empoderado, por ser ativo, faz as suas escolhas e tendências a partir da influência de sua ‘bolha de relacionamento” (dos amigos que tem, das páginas que segue) e das informações segmentadas que recebe.
Como o consumidor vem se tornando cada vez mais individualista, se importa menos com o que os outros pensam e deseja que todos lhe entendam, em especial, as marcas que fazem anúncio em seu perfil.
Nesse novo cenário comportamental, as marcas precisam ter empatia, se colocando no lugar do consumidor. Para tanto, as estratégias mercadológicas precisam ser verdadeiras, só destacar as qualidades que realmente existem em um produto. O consumidor empoderado não quer ser enganado e não ficará passivo à propaganda enganosa.
Na expectativa dos consumidores, além da empatia e da verdade, há o desejo pela simplicidade. Como o mundo está cada vez mais frenético, há um desejo pela simplificação das coisas. Essa simplicidade tem como característica a praticidade e até mesmo a durabilidade. Os consumidores não querem produtos que sejam complexos para cuidar ou manusear.
E como a revolução tecnológica digital está em curso, teremos outras mudanças comportamentais com o avanço da internet das coisas, a popularização da impressão 3D e a ampliação da Inteligência artificial.
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br