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Menos corrupção, menos intolerância!

Há tempos, estamos sofrendo com a corrupção e é um sofrimento que parece não ter fim. É um desalento que vai abrindo feridas profundas em todos e está nos levando ao pior de todos os males: a intolerância.

Durante o processo eleitoral de 2018, a população tinha como consenso a necessidade de um presidente que tivesse como princípio o combate à corrupção. Deveria ser uma pessoa com pulso firme, com capacidade de romper com a velha política do toma lá, dá cá. Desejavam um político que administrasse o Brasil como se administra uma empresa, fazendo com que os serviços públicos e obras andassem e os funcionários públicos trabalhassem em prol das pessoas.

Era um desejo simples, justo e necessário! O problema é que os agentes que operam o sistema político brasileiro “não se dão conta” dos malefícios causados pela corrupção. Mas a sociedade sabe pontuar os diferentes males que a corrupção traz.

Há aqueles que dizem que a corrupção leva o dinheiro de serviços como a saúde e tira a chance de muitas pessoas viverem.

Tem aqueles que percebem a corrupção como uma doença contagiosa, que contamina as pessoas honestas. Acreditam que, quando se “chega lá” e vê os colegas desonestos se dando bem, é fácil entrar na mesma lógica.

As pessoas com mais experiência contam que a corrupção mantém a ineficiência do serviço público e potencializa a burocracia. Cria a figura do intermediário, daquele que é o “despachante”, que faz a indústria do suborno começar a funcionar para que o cidadão tenha acesso àquilo que é seu de direito.

E uma parcela fala da corrupção com profundo desprezo, lembrando a impunidade. Das práticas corruptas que acabam fazendo parte do nosso dia a dia, nos entristecendo, nos obrigando a dizer para os nossos filhos: “infelizmente, é assim que funciona”.

Diante dessas lógicas perversas, os efeitos da corrupção ampliam cotidianamente a decepção que é potencializada e externada pelas redes sociais. A impaciência da população é um sintoma, que mostra que não se aguenta mais ver as mesmas práticas, os mesmos conchavos e as negociatas de sempre.

E essa intolerância que nasce das sucessivas frustrações da população, alimenta a descrença com os partidos, com os políticos e com as instituições. E a desmoralização das instituições afeta a crença na democracia.

E aí está o pano de fundo para os debates que estão sendo visto nas redes sociais. A maioria tem um desejo comum: quer um país melhor, sem corrupção e não acredita que o país esteja caminhando para esse propósito.

Além disso, a forma como as soluções são apresentadas geram muitos temores: como se abrir mão da aposentadoria fosse um caminho bom para o país não quebrar, e investir em educação fosse um caminho ruim, pois há necessidade de contingenciamento.

Temos a tempestade perfeita para o bate-boca, para a desqualificação do outro, para que a intolerância se mostre na sua forma mais plena.

Montesquieu diz que dois seres uma lei, dois seres um diálogo. E a intolerância se torna a rainha quando dois seres não dialogam, se atacam. Quando dois seres não trocam ideias, se desqualificam. A intolerância procura um culpado, ataca o mensageiro e não permite que se chegue a uma leitura e muito menos aos pontos fortes e fracos da mensagem.

Temos que resgatar a tolerância. É salutar concordar, discordar ou mostrar pontos frágeis da mensagem, mas sempre com respeito ao mensageiro.

http://www.coletiva.net/colunas/menos-corrupcao-menos-intolerancia-,299758.jhtml

 

Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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