Estudo o comportamento dos eleitores há mais de 20 anos e a cada novo pleito aprendo muito com cada processo. Dito isso, posso afirmar: o pleito de 2018 será histórico!
O eleitor está cansado, está exaurido com o nível endêmico da corrupção e a situação política do país, e, ainda, é acusado de não saber votar. Os políticos conclamam para que o eleitor vote com consciência e o eleitor conclama para que os partidos políticos escolham com consciência os candidatos que os representarão. O problema é anterior a escolha eleitoral, diz respeito a falta de princípios na escolha dos candidatos dentro dos próprios partidos.
O eleitor analisa as opções disponíveis, que vão de Lula a Bolsonaro e faz suas escolhas. Em ambos os casos, o voto ideológico tem um peso secundário.
A maioria dos eleitores que intencionam votar em Lula o fazem por gratidão, por reconhecimento aos programas sociais implementados no País durante os governos do PT. Estes programas alteraram a vida de muitas pessoas, proporcionaram dignidade, mobilidade social e a realização de sonhos. É comovente ouvir relatos de famílias que conseguiram financiar uma casa no programa Minha Casa Minha Vida e que seu filho teve acesso ao ensino superior pelo Prouni. Como a corrupção é vista por 90% dos gaúchos como um mal que permeia todos os políticos, a análise é que ‘pelo menos Lula fez’.
A maioria dos eleitores pró Bolsonaro teme a situação do País, se preocupam com o aumento dos índices de criminalidade e acreditam que Bolsonaro não estaria comprometido com conchavos políticos e corporações, tendo condições de enfrentar os principais dilemas que atingem a sociedade. É como se Bolsonaro representasse a angústia reprimida, a indignação perante a falta de princípios que se expressam nas práticas do jeitinho brasileiro.
Entretanto, a maior parcela do eleitorado não quer saber de Lula e nem de Bolsonaro em função da frustração com os atuais políticos. Procuram um candidato que seja exemplo de honestidade e que tenha a capacidade de encorajar o País a se reformular, a fazer as disrupturas necessárias a fim de superar as práticas permissivas que alimentam a corrupção. Os eleitores procuram um salvador da pátria, uma pessoa que tenha a capacidade de liderar e que tenha experiência como gestor.
Os eleitores sabem que um salvador da pátria é algo idealizado, mas apregoam que a esperança é o que motiva a crença no amanhã e permite sobreviver frente a toda frustração.
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Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br