O estímulo à participação feminina nos pleitos eleitorais por meio da cota de gênero está previsto na legislação brasileira há mais de duas décadas. Na década de 90 estávamos discutindo ações afirmativas de inclusão da mulher na política e agora estamos debatendo como evitar as irregularidades no cumprimento das cotas de gênero.
A princípio pode parecer até contraditório, de um lado se busca espaço para as mulheres na política via legislação e de outro as mulheres se autossabotam. Os estudos realizados pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião com mulheres partidárias e não partidárias mostra que o problema está associado à cultura política brasileira e ao patriarcado que domina os partidos políticos.
Primeiro, temos que ter claro que a política é fundamental para guiar nossa vida em sociedade. A política define as leis (o que podemos ou não fazer) e define a gestão dos serviços públicos (como será o atendimento da saúde, qual será a forma utilizada para combater a violência, se a educação será a prioridade e até o que será ensinado nas escolas).
A política define o tamanho do Estado e influência nos rumos da economia. E também é a política que diz a quantidade de impostos e tributos que devemos pagar e o que será feito com esse dinheiro.
Por essa lógica, como a política independe de gênero, precisa entrar no “DNA” das mulheres. Precisa mexer com seu sistema de crenças, inspirar e motivar, fazer parte do propósito de vida das mulheres.
Mas isso não vai acontecer via decreto, por cotas legais. Os partidos políticos precisam ter uma política de formação continuada para as mulheres, ter escolas de política. Nestas escolas, para além da cartilha programática do partido, deve-se ensinar o dom da oratória, a arte da persuasão e do convencimento, bem como a importância do posicionamento de imagem e as estratégias políticas. Nada que os homens já não fazem há séculos!
A lei que “cola”, a lei que “pega” é aquela que é acompanhada de consciência, de construção cultural. Para que haja interesse e adesão das mulheres a uma consciência política de participação é preciso um projeto que seja de longo prazo e que comece com uma consciência embrionária, que se mantenha com rotinas de integração até que se construa o hábito da participação feminina.
1) Para estimular uma consciência embrionária nas mulheres é necessário um gatilho. O gatilho não vem com o discursinho tradicional das lideranças masculinas, mas com uma reforma nos partidos políticos que permita espaços de participação e delegue às mulheres uma agenda mínima de “pautas universais”, como pensar políticas públicas para saúde e educação.
2) É necessária a facilitação de uma rotina, uma ação continuada que concilie espaços de participação e inclusão nos projetos e propósitos partidários. É vital que esta rotina seja híbrida, que os homens participem e auxiliem na formação de lideranças femininas.
3) A consciência política das mulheres virá com a força do hábito, por esta jornada de vivência partidária e troca de experiências com os políticos experientes. O empoderamento da mulher na política exige um trabalho de construção, que envolve o engajamento de homens e mulheres. E esta conexão pode ser inspiradora e aspiracional, auxiliar na valorização da política e diminuir os índices de negação política.