As pesquisas de opinião costumavam destacar a saúde pública como a principal prioridade da população do RS. A saúde continua sendo uma prioridade. Entretanto, a segurança pública passou a ter um lugar de destaque, na prioridade e no anseio da população, tendo em vista que o receio é corrente entre as pessoas que possuem uma agenda mais ativa, em especial, entre os que estudam ou trabalham à noite.
Se o “medo” se torna parte do cotidiano, a sociedade desenvolve novos comportamentos para diminuir o risco. Dentre estas mudanças se destacam as seguintes lógicas:
– Diminuição de passeios noturnos = impactando o comportamento de metade dos gaúchos, o que inclui a diminuição de práticas de relacionamento familiar (ir jantar ou visitar amigos à noite) e até mesmo a diminuição de atividades de entretenimento (como frequentar bares, restaurantes e boates).
– Evitar bairros e ruas = é uma prática de outra metade da população. O noticiário é farto em relatos de crimes. As redes sociais expõem assaltos e roubos (sendo que o usuário relata que não irá registrar por falta de crença no aparato repressivo) e, nos grupos de WhatsApp, chegam a circular vídeos de crimes, com relatos e alertas sobre determinado bairro ou zona. Estas informações são assimiladas pela população que cria um “juízo de valor” sobre determinadas áreas. A sensação de insegurança, somada à divulgação de crimes em determinadas áreas, cria uma “condenação sumária” de uma região ou bairro, que passa a ter uma fama negativa (ou há o fortalecimento da fama) e, naturalmente, passa a ser evitado.
Quando uma pessoa sofre algum tipo de violência, passa a ter outros comportamentos sociais (não incluindo neste debate a necessidade de acompanhamento ou apoio psicológico), tais como:
– Mudar o trajeto de deslocamento do trabalho/ escola para casa;
– Mudar o tipo de condução (se a violência foi no ônibus, a vítima procura utilizar outro tipo de condução ou até mesmo tentar trocar o horário do ônibus);
– Tentar andar em grupo, buscar alternativas de descolamento com amigos, vizinhos e parentes;
– Nos casos mais graves, há mudança de endereço ou até mesmo de bairros.
A violência está se enraizando no cotidiano, assolando o noticiário, ampliando as estatísticas e alterando o comportamento da sociedade. Tal fenômeno é preocupante, pois indica que a “célula social” está tentando se alterar para conviver com a insegurança, como se fosse uma nova realidade, como uma situação contingencial. Não podemos esquecer que a existência do Estado se encontra no aparato da força física, na garantia da segurança.
Temos que voltar a essência do Estado de Direito: a sociedade não deveria estar se redesenhando para conviver com a insegurança, o Estado é que deveria estar se remodelando, para combater a violência e garantir a segurança.