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A precarização financeira da sociedade

A pandemia da Covid-19 atinge a saúde da população mundial e desestabiliza a economia mundo afora, criando um efeito dominó que afeta severamente alguns segmentos econômicos e acabará dando um rebote em todas as áreas da economia.

Não precisa ser economista para saber que todos iremos perder financeiramente. O governo terá a difícil missão de equalizar os gastos de custeio da máquina pública com o auxílio emergencial de empresas e pessoas e a projeção de políticas públicas para reerguer a economia após a Covid-19.

A economia é uma roda que gira a partir dos movimentos de consumo, da lei da oferta e da procura, e vivemos uma situação econômica em que se encolheu, simultaneamente, tanto a “oferta” como a “procura”. Na história recente nunca se viu uma retração de consumo em um tempo tão pequeno. Um cenário onde muitas pessoas não conseguem trabalhar, não conseguem produzir e, o que é mais sério, não conseguem ter renda para pagar suas contas ou até mesmo para garantir a sua subsistência básica.

A economia funciona com o consumo. Não podemos esquecer disso! E o consumo exige capacidade financeira. É um efeito cascata que nesse momento é preocupante, mas que pode se acirrar com a diminuição da renda dos brasileiros.

Cada novo desempregado é um consumidor a menos.

Cada empreendedor que fecha seu negócio, é um consumidor a menos.

Cada trabalhador informal que não consegue trabalhar é um consumidor a menos.

A população está muito preocupada com o equilíbrio de sua saúde física e financeira. As pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião no Estado do RS indicam que a população deseja que as medidas de distanciamento social controlado consigam equilibrar as ações de cuidado com a saúde com a manutenção do trabalho, com a manutenção dos empregos.

A frase que mais se ouve nas ruas é que “não existe trabalho sem saúde”. As pessoas precisam de saúde, mas também precisam de trabalho e de renda.

Para os gaúchos não há uma contradição entre saúde e economia, entre os que defendem o isolamento social e os que defendem a abertura do comércio. Não é uma questão de opinião. É uma questão contingencial, é uma questão de sobrevivência financeira.

Na prática, quem defende o isolamento social é quem tem condições econômica para ficar em casa, tem reservas. São pessoas que tem renda fixa, são os aposentados, aqueles que podem trabalhar em casa ou quem é funcionário público.

Quem defende a economia são pessoas que não têm renda, se não houver trabalho. São pessoas que não podem trabalhar de suas casas. Temos que pensar no dono do comércio, no gerente da indústria ou no prestador de serviço. Também há o empregado, o trabalhador informal e o autônomo.

A precarização financeira é muito mais drástica para o trabalhador informal e autônomo. Historicamente esse grupo vive à margem da sociedade, com direitos limitados. Costuma “trabalhar de dia para comer a noite” e está sendo penalizado com as restrições impostas pelos gestores públicos.

Também é devastador o impacto financeiro nos segmentos de prestação de serviços especializados, como educação infantil, turismo, cultura, esporte, eventos, entre outros.

A pandemia nos mostra como somos economicamente frágeis e que é vital resgatar a premissa de “guardar hoje para ter amanhã”. É o momento de repensarmos a necessidade de educação financeira e do empreendedorismo, como uma política pública de educação e qualificação profissional após a pandemia.

 

https://www.oaltouruguai.com.br/coluna?id=1275

 

Cientista social e política. Fundou o Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br

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