A pandemia chegou e quem era pobre, ficou mais pobre ainda.
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Foi impiedosa com quem já estava em situação de vulnerabilidade social estrutural, famílias que já viviam em condições precárias, recebendo apoio de programas como o Bolsa Família. Pesquisa realizada pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião identificou que 7,1% dos gaúchos vivem atualmente em situação de vulnerabilidade social estrutural.
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Quando se analisa a história de vida dessas famílias, compreende-se que elas vivem em um ciclo vicioso, que limita as suas perspectivas e oportunidades. Quem vive em situação de precarização financeira tem baixa escolaridade, não tem qualificação profissional e dificilmente consegue romper com esse ciclo.
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Nessa condição social há dificuldade para fazer as coisas mais básicas. Muitas vezes não há dinheiro nem para o transporte coletivo. Os momentos de desespero e ansiedade são tratados com o álcool, cigarro ou até mesmo outras drogas ilícitas. Com dificuldades e limitações estruturais, essas pessoas são facilmente classificadas como preguiçosas ou vagabundas.
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Olhando com a lupa da investigação social para o mundo dessas pessoas, se observa que elas travam uma batalha por dia.
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O primeiro desafio é colocar a comida na mesa. É ter o leite para as crianças. E, nesse contexto, comprar materiais de limpeza e higiene exige um malabarismo. E não é sempre que dá para pagar a conta de água, gás e luz. O “jeitinho brasileiro” acaba sendo um aliado, justificando o “gato” da água ou luz.
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Até aqui, apenas alguns exemplos que dão conta da sobrevivência básica. E como essas famílias estão tão preocupadas com a sua subsistência, não dão a devida atenção à saúde e à educação de seus filhos. Na maior parte dos casos, quem vive em situação de vulnerabilidade social estrutural não tem ensino fundamental completo e não percebe que a educação formal seja uma saída.
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Nesse momento da pandemia, muitas dessas famílias não têm nem material escolar para que seus filhos retornem às aulas presenciais e o único estímulo para o retorno acaba sendo a merenda escolar.
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Quando se pensa em oportunidades de trabalho, a realidade dessas pessoas continua sendo um limitador. A maioria não tem condições de fazer um simples currículo e desconhecem as empresas de seleção e recrutamento.
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Por todo contexto social, têm dificuldade de se vestir adequadamente para uma entrevista e desconhecem os protocolos mínimos para passar no crivo de uma avaliação padrão. Se conseguem passar por essa jornada de seleção, esbarram na condenação de seu endereço, como um carimbo final que acaba com as suas esperanças.
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Diante da dificuldade de acessar as oportunidades de trabalho fixo, essa população fica à mercê de atividades informais, engrossando a fila dos ambulantes, faxineiras, biscateiros e catadores.
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É importante termos em mente que “uma coisa leva à outra” e a palavra “vulnerável” também representa a suscetibilidade dessas pessoas para o mundo do crime, podendo ser facilmente cooptadas como mão de obra para o tráfico de drogas.
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É como se a restrição financeira desencadeasse um efeito dominó. Essas pessoas se esforçam com o hoje, com a manutenção e a sobrevivência de sua família. Não conseguem projetar o amanhã. E a falta de recursos, informação, educação e perspectiva mantém essas pessoas em um ostracismo social.