A principal pergunta deste momento é: “Qual é o desejo do eleitor?”. Perguntar o desejo do eleitor não é uma tarefa fácil para um instituto de pesquisa, pois o eleitor tem dificuldade de dizer suas expectativas.
O sentimento do eleitor em relação aos políticos se assemelha ao sentimento de mágoa de uma pessoa traída e enganada. Muitos eleitores estão decepcionados, outros frustrados e alguns estão rancorosos.
Com a premissa de que “a esperança é a última que morre”, uma parcela dos eleitores tenta renovar as esperanças. Enquanto que a outra se divide entre eleitores descrentes e racionais, que se mostram pragmáticos com a realidade em que vivem.
Neste contexto, durante uma pesquisa o eleitor primeiro precisa desabafar, criticar, reclamar e depois disso é que ele consegue projetar seus desejos, suas expectativas.
A primeira coisa que o eleitor almeja é por uma mudança no comportamento dos políticos ou na forma como o sistema político está organizado. Ele deseja que os políticos façam apenas a sua obrigação: representar o povo com honestidade.
O sentimento de traição está associado à percepção de que a maioria dos políticos atua em causa própria e que a corrupção é uma consequência natural do poder. Para o eleitor, quando um político é eleito passa a ter um cargo e estrutura e fica suscetível as intempéries da corrupção. O eleitor acredita que a maioria dos políticos acaba sucumbindo.
Diante deste contexto o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião questionou aos eleitores gaúchos se o resultado da eleição geral de outubro de 2018 vai fazer a vida melhorar?
– Vai fazer a vida melhorar = 24,9%
– Vai ficar a mesma coisa = 48,9%
– A vida vai piorar = 21,4%
– Não sabe avaliar = 4,8%.
O resultado demonstra que quase a metade dos eleitores não acredita que a eleição de 2018 trará melhoria para a vida das pessoas. E a outra metade se divide entre os que creem em melhoria e os que temem pela piora do cenário.
Quando o eleitor pensa no Brasil, sua maior preocupação é com o combate a corrupção. Na leitura da população, o controle da corrupção tende a diminuir a maior parte das mazelas sociais. É como se a corrupção fosse percebida como um mal que diminui a capacidade do Estado e paralisa os governantes.
Os eleitores fazem ilações de toda ordem. Associam a corrupção da Petrobrás como um dos motivadores da crise econômica. Concluem que crise fomenta o aumento do custo de vida (da energia, dos combustíveis) e, por consequência, afeta a capacidade de compra da população que, por sua vez, propicia o aumento do desemprego. Com mais dificuldades econômicas, aumenta a injustiça social e há mais famílias e jovens vulneráveis a influência e o domínio do crime organizado. O crime organizado se fortalece e aumenta a sensação de insegurança da sociedade.
Por isso que o eleitor afirma que as principais prioridades para o próximo presidente devem ser: economia, segurança e o combate à corrupção. Mas isso não diminui a relevância de temas como saúde, educação e infraestrutura.
É importante destacar que o eleitor não esquece de registrar que, por essência, a educação deveria ser a pauta principal de um governante. A educação tem o poder de transformar o sistema de crença das pessoas a partir da inserção de novas visões de mundo. E a sociedade necessita ter consciência e rever o papel que o jeitinho brasileiro ocupa no cotidiano. E como ele está impregnado nas relações sociais e serve como uma escada para a corrupção.
https://www.coletiva.net/colunas-/a-expectativa-do-eleitor-para-2018,278797.jhtml
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br