Desde 2015, as pesquisas de opinião começaram a sinalizar que a corrupção estava sendo percebida pelos brasileiros como o principal problema do País, ficando na frente de dilemas como saúde e segurança.
A corrupção foi o tema central da eleição de 2018 e motivou a decisão de voto de muitos eleitores, que apostavam na moralização da política brasileira. O princípio decisório de muitos desses eleitores partia da premissa de que um “novo nome” resultaria em um “novo comportamento”. De certa forma, uma avaliação ancorada na esperança!
Mesmo acostumada com a corrupção, a população fica atônita quando observa o noticiário relatando que os esquemas de corrupção acompanham o crescimento da infecção pela Covid-19. Conforme cresce a pandemia, crescem os esquemas de superfaturamento ou desvios de verbas em torno de respiradores, hospitais de campanha, EPIs, e até mesmo em função de “kits anti coronavírus”.
Nas pesquisas de opinião realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião verifica-se que essa situação amplia a indignação da sociedade e a percepção negativa em relação à política.
A indignação vai ampliando o sentimento de frustração, a sensação de que “não tem jeito”, e de que os políticos são oportunistas e se aproveitam da situação. E esse sentimento negativo amplia a distância da população em relação aos partidos políticos, vai transformando e consolidando a ideia de que a política é algo ruim, alimenta a força do “jeitinho brasileiro” e a interpretação de que “todo mundo tira vantagem de tudo”.
A população analisa todo o cenário, estima os riscos que corre com a corrupção e se pergunta se cotidianamente a corrupção não mata mais gente do que a Covid-19.
O momento de incertezas que vivemos gera muitas dúvidas, muitas perguntas e reflexões. É um contexto no qual os entrevistados fazem tantas perguntas quanto os entrevistadores. E essas perguntas tentam estimar os custos e os riscos causados pela corrupção. As pesquisas de opinião monitoram vários tipos de questionamentos:
– Quantas pessoas morrem todo ano por falta de leito ou cirurgia em hospitais sem estrutura que são impactados pela corrupção?
– Quantas pessoas estão morrendo sem atendimento adequado, sem respirador ou sem acesso à UTI pela corrupção?
– Quantas pessoas não têm a medicação ou o tratamento adequado em função da corrupção?
– Quantas pessoas perdem a vida precocemente por não haver uma saúde preventiva que faça diagnósticos no início da doença?
– Quantas pessoas morrem nas estradas de mão única, mal construídas ou até mesmo inacabadas pelos desvios de verba da corrupção?
– Quantas pessoas morrem antes de ter o socorro médico necessário por falta de ambulância ou helicóptero?
São muitas e muitas perguntas que refletem um momento de incertezas, medos e angústias, de uma população que está calejada de sofrer os impactos dos efeitos da corrupção no Brasil.
A população está cansada e tem uma noção de que a corrupção precisa de punição e de muita educação. Para avançarmos neste tema é necessário reconhecermos que este problema é sistêmico, está inserido em nossa história e está na base de nossa cultura política. Significa que precisamos combater a corrupção em sua nascente, nas relações de reciprocidade que se estabelecem com o jeitinho brasileiro, acabando com o “toma lá, dá cá” que está inserido nas pequenas relações do cotidiano.
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https://www.coletiva.net/colunas/a-corrupcao-e-pior-do-que-a-pandemia,366433.jhtml
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Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br