Como pesquisadora que estuda o comportamento da sociedade, tenho visto se ampliar a descrença em relação à política e a perspectiva de negação da política (que está associada ao aumento do individualismo e da intolerância, motivado pela influência da tecnologia).
Fiz diferentes artigos explicando o quanto a política é fundamental para guiar nossa vida em sociedade. A política define as leis (o que podemos ou não fazer) e define a gestão dos serviços públicos (como será o atendimento da saúde, qual será a forma utilizada para combater a violência, se a educação será a prioridade e até o que será ensinado nas escolas).
A política define o tamanho do Estado e influência nos rumos da economia. E também é a política que diz a quantidade de impostos e tributos que devemos pagar e o que será feito com esse dinheiro.
A política pode diminuir a tendência do individualismo e ampliar o sentimento de comunidade. Com a política somos parte, somos inclusos, ela traz o sentimento de pertencimento. A política é a arte do diálogo, da negociação, da capacidade de transformar tese e antítese em uma síntese. De fazer com que o conjunto A e o conjunto B formem uma intersecção. A política fomenta o estabelecimento de regras, a harmonia do convívio social e transforma moral em ética. A política é responsável pelo contrato social entre as pessoas, entre as instituições e entre os governos.
A política nos faz evoluir como seres sociais. A política nos faz ver que um precisa do outro, que o direito de um acaba quando começa o do outro. A política nos ensina que somos diferentes e podemos pensar de forma diferente, mas temos que lidar com a diferença de forma respeitosa e fazer isso com tolerância e empatia. Com a política podemos transformar sonhos em realidade.
Mas para que a política seja tudo o que ela se propõe, temos que ter consciência de que o jeitinho brasileiro está impregnado em nossa cultura e que temos que fazer a nossa parte. Que não adianta reclamar dos políticos e continuar praticando o jeitinho ou ficar omisso diante de pessoas que praticam o jeitinho.
Temos a missão de salvar a política. Para salvar a política temos que ajudar a resgatar e recontextualizar a política. E para fazer isso temos que rever o nosso comportamento e o nosso envolvimento com a política.
– Ter consciência do que é o jeitinho brasileiro (que é quando se tenta resolver um problema ou uma tarefa utilizando um subterfúgio, burlando regras, ou utilizar redes de contato para tirar vantagem);
– Ter interesse por política, buscar informações sobre o que está acontecendo;
– Acompanhar o desempenho dos candidatos que votou mandando mensagens quando alguma ação não está em acordo com o que foi prometido;
– Trocar ideias, debater. Significa que temos que ver as diferentes perspectivas sobre o tema, verificando os interesses que estão em jogo;
– Ter um ativismo político ou engajamento digital, se envolvendo com os movimentos da sociedade civil organizada como: renovabr.org, agoramovimento.com ou movimentoacredito.org;
– Engajamento ou participação política (envolvimento em entidades representativas, sindicatos, associações ou partidos);
– Cuidar para ter empatia, tolerância, solidariedade para ampliar o sentimento de pertencimento e comunidade.
Se cada um de nós fizer um “pouquinho” em prol do bem comum, estaremos salvando a política e o resultado dessa ação irá repercutir e influenciar no comportamento e nas práticas dos partidos e dos políticos.
http://www.coletiva.net/colunas/temos-que-salvar-a-politica,322419.jhtml
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO – Instituto Pesquisas de Opinião em 1996. Utilizando a ciência como vocação e formação, se tornou uma especialista em comportamento da sociedade. Socióloga (MTb 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na UFPel e tem especialização em Ciência Política pela mesma universidade. Mestre em Ciência Política pela UFRGS e professora universitária, Elis é diretora e Conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) www.asbpm.org.br