Como cientista social e política me dedico a estudar o comportamento da sociedade, em especial, o comportamento político dos cidadãos.
O comportamento político de uma sociedade é constituído por uma cultura política, que funciona através de um conjunto de discursos e práticas simbólicas (estamos falando de crença, de visão de mundo e de pré-conceitos construídos). Na prática, todo o sistema político brasileiro está baseado em nossa cultura política. Significa dizer que os políticos brasileiros são reflexos da sociedade brasileira!
E quando falo em cultura política estou falando das informações e orientações que recebemos sobre cidadania, desde de nossa infância. Cidadania é um conjunto de direitos e deveres de cada um e, principalmente, a capacidade de respeitar o outro, de aceitar a diferença. O exercício da cidadania pressupõe a clareza de que o direito de um acaba quando começa o do outro.
Ao mesmo tempo em que o conceito de cidadania deveria ser um princípio muito simples para uma sociedade civilizada, ele parece ser o grande desafio para se alcançar a equidade social.
O primeiro passo é revermos os ensinamentos que temos dentro de nosso sistema de crenças. Que informações recebemos sobre o jeitinho brasileiro? Temos a clareza de que o jeitinho brasileiro é um inimigo natural da cidadania? Como avaliamos as práticas de levar vantagem em tudo? Como funciona o nosso juízo de valor e como ele é ativado no julgamento automático do outro (por sua cor, por sua aparência, por sua forma de falar ou até mesmo por sua forma de vestir).
Temos que parar e fazer uma análise do nosso “eu interior”. Como fomos ensinados, quais são as nossas práticas e quanto estamos preparados para ser cidadãos?
Depois de revisitar o que aprendemos e praticamos, temos que rever o que ensinamos. A família é a primeira instituição social de aprendizagem da cultura política. É na família que cristalizamos os nossos conceitos de mundo ou os nossos preconceitos. Nesse contexto, é vital estarmos atentos ao que ensinamos aos nossos filhos. Mostrar o que é certo e o que é errado e não esquecer que o discurso precisa estar alinhado à prática!
A escola é a segunda instituição social a nos ensinar. É na escola que se estabelecem as primeiras experiências de relacionamento e, portanto, de exercício de cidadania e de respeito ao outro. Pais e professores precisam ensinar que o normal é ser diferente, que o bem de um termina quando começa o do outro, que todos precisam estar bem, se sentir bem e para isso é fundamental o respeito a diferença.
Se cada um de nós tiver a consciência de que o preconceito e o racismo precisam ser combatidos na base da sociedade, nas primeiras instituições sociais (como família e escola) estaremos evoluindo para construir uma cultura política mais justa e menos sujeita a juízo de valor e desrespeito.
O amadurecimento da cultura política irá motivar, naturalmente, a participação política, que traz consigo debate e informação ou vice-versa. A ampliação da participação política influenciará na forma como escolhemos os nossos representantes e, por consequência, teremos condições de eleger políticos que tenham capacidade de estabelecer e manter um projeto de Estado (evitando os projetos de partidos) e que motivem o exercício efetivo da cidadania: assegurando que todo cidadão tenha seus direitos garantidos e que saiba que o fundamento da vida em sociedade é o respeito ao outro.